Meu trabalho começou num momento em que eu buscava silêncio — e foi no barro que encontrei.
Sou Renata Catena, e ainda estou no começo do meu caminho como ceramista. Tenho aprendido aos poucos, com as mãos e com o tempo, entre tentativas, erros e pequenos acertos que me animam. Venho de uma vida corrida, empreendo, toco projetos sociais, mas foi na cerâmica que encontrei um lugar diferente. Um ritmo mais calmo, mais presente. Um tempo que me obriga a estar ali, inteira.
Agora estou me preparando com carinho para uma possível seleção na 55ª Exposição de Arte Koguei Bunkyo , uma das mostras mais importantes da arte nipo-brasileira. Só de poder me preparar, já me sinto honrada. Estou fazendo o meu melhor, com calma e respeito pelo processo. Porque, às vezes, só o fato de se colocar a caminho já diz muito.
Tenho sido guiada com sensibilidade pela minha professora Magali Ercolin, que me ensinou a ouvir o barro, e a entender que ele tem seu tempo, e que é melhor assim. Aprender com ela é também reaprender a olhar.
Para esse momento, criei duas peças inéditas. Foram inspiradas na cerimônia do chá japonesa (Chanoyu), que sempre me tocou pela leveza dos gestos e pela delicadeza do que é simples. Tudo ali é silêncio, intenção e acolhimento.
As peças ainda estão cruas, em secagem natural. Logo seguem para a primeira queima, o momento em que o barro começa a se transformar e revela sua textura real. É uma etapa delicada — onde tudo pode acontecer, e talvez por isso tão bonita.
O primeiro vaso, mais alto e contido, se chama “Chaji”. Tem paredes finas e uma presença discreta. Representa o preparo, o gesto contido, a espera silenciosa. Pensei na verticalidade, no equilíbrio e nessa tensão que antecede o movimento.
O segundo vaso, mais baixo e largo, se chama “Chawan no michi” — o caminho da tigela. É aberto, acolhedor, com uma borda levemente irregular, como um convite. Ele fala do momento de servir, de receber o outro com suavidade.
Diferentes, mas irmãos. Um fala da estrutura, o outro da entrega. Um guarda, o outro oferece. Trabalhei os dois pensando nesse diálogo entre firmeza e gentileza.
Além da forma, venho pesquisando também os materiais. Para essas peças, preparei um esmalte feito com cinzas de madeira e café, uma mistura que carrega o tempo dentro dela. A cor final ainda é um mistério, e eu gosto disso. Gosto da ideia de que o fogo vai dizer a última palavra.
Misturar, testar, errar... tudo isso também é cerâmica. Tem algo de alquimia, mas tem muito de paciência. Aos poucos, começo a entender que o que importa não é apenas a cor que aparece no fim, mas o cuidado com cada passo até lá.
Estar nesse processo, mesmo antes de saber se serei selecionada, já tem sido um presente. Porque mais do que mostrar um trabalho, é uma forma de afirmar um jeito de estar no mundo.